17 de jul. de 2012

Era um dia comum ...



É um dia comum, previsão do tempo: sol. Moro em um apartamento aproximadamente no 12º andar em frente à praia. Sacada maravilhosa com visão para mais bonita praia com árvores e reserva da Mata Atlântica.
Hall completamente agradável. Tudo em aparência tropical. Pessoas felizes, crianças, adolescentes, surfistas, todos completamente em clima de verão no Oregon. E este clima é diário, algo bem comum para nós que moramos aqui.
Como sempre, minha mãe está no trabalho e eu estou em casa, acabei de chegar da escola. Como hábito, chego, coloco minha mochila ao lado, vou até o banheiro, lavo as mãos, o rosto, e, com minha mania nada louvável, procuro algo para beliscar na geladeira ou sento-me para ver algo na TV.
De repete, um vento, por incrível que pareça frio e um tanto quanto forte balança as cortinas e algumas folhas voam pelo meu apartamento. Recolho os papéis, os coloco em seus lugares. Sento-me outra vez e novamente: vento. E não demora muito para começar uma leve ventania. Levanto-me e fecho as janelas. Mas ao chegar perto e olhar para o horizonte, deparo-me com um céu quase acinzentado e nuvens quase cobrindo o maravilhoso sol daquele dia. Não demora muito para que todo o céu deste lugar maravilhoso de clima havaiano esteja completamente coberto por nuvens, deixando o dia com aspecto humido, frio e triste.
Passam-se alguns minutos e a então anunciada chuva começa a cair. Todas as pessoas que estavam no mar, na praia e calçadas ficaram tão surpresas quanto a mim pela mudança repentina do tempo. Elas decidem não ir embora e ficam apenas em baixo dos quiosques, bares, farmácias e outros estabelecimentos que há por ali para esperar a chuva passar, já que são comuns chuvas passageiras de verão. Porém, esta apenas criava mais força, seus pingos engrossavam e caiam incessantemente. E junto à ventania, o mar começa agitar-se, e nesse ciclo vicioso tornou-se um grande temporal (pensem em um grande temporal e o multiplique por três, sério!). Não tem como ninguém sair de dentro dos estabelecimentos e tentar ir para casa. As palmeiras envergam-se, as árvores perdem seus galhos com o vento forte. O vento joga tudo com muita força. O espanto não é diferentes para nós, moradores deste prédio. O prédio trepida a cada rajada de vento e jorrada dos pingos da chuva. Meu telefone toca e é minha mãe me ligando do serviço pedindo para eu fechar as janelas e permanecer dentro de casa, como de costume. As coisas estão agitadas demais, não é apenas um temporal de verão. Está mais para um dilúvio sempre muito bem acompanhado dos futuros caos e desastres! Estava a piorar e todos sabiam disso.
Levanto-me, já preocupada com meu natural medo de chuvas, trovões e companhia, e vou até a janela ver como está a situação, claro, já não esperando ver algo bom. Esforço-me para conseguir ver algo, já que a chuva impossibilita uma visão mais clara das coisas. E então, para minha surpresa, espanto-me ao ver o mar completamente em fúria, com suas ondas sendo capazes de atingir mais da metade da praia.
Não chega passar cinco minutos para essa fúria do mar aumentar e as ondas começam atingir não só a praia toda, mas também as ruas. Abro a porta, tentando ir para a sacada. Sim, tentando. Ao abrir a porta deparo-me com correria dos meus vizinhos, desespero, crianças chorando e muita gritaria. Chego perto da “grade” para olhar as ruas e tudo está completamente alagado e não apenas alagado, o mar continua em fúria, como se tivesse avançado por todo o bairro.
A visão que entristece, preocupa e também dá medo é que a água já chega na cintura das pessoas e a altura cada vez mais elevada. Sei que existem pessoas que precisam muito de ajuda, mas talvez seja tarde demais em alguns pontos, uma vez que agora a tempestade piorou e o mar está completamente em fúria, com ondas gigantescas. Volto para dentro do apartamento, procuro pelo telefone, desesperada, preocupada com minha mãe no serviço, tento ligar para ela, mas a linha está simplesmente cortada. Procuro pelo meu celular, mas nessa bagunça toda é completamente impossível pensar racionalmente e lembrar onde o coloquei.
Saio, procurando ajuda. Vou até o apartamento ao lado. Encontro uma moça – aparência agradável, pele clara, cabelos curtos, pretos, magra. Usava um traje social e passava uma calma muito grande, apesar do desespero que a situação exigia – e sua filha – adolescente, aproximadamente uns 14 ou 16 anos, cabelos pretos e enrolados - também desesperadas. A filha chorava muito e a mãe tentava acalmá-la. Vendo-me, a moça chamou-me para perto delas e disse que procuraria ajuda. A filha chorava inconsolável, tinha muito medo. A energia já começava a falhar e a chuva continuava muito mais forte. Perguntei o seu nome, ela disse Laís. Disse para ela confiar em mim, pois ficaria tudo bem. Ela confiou. Passaram-se mais de quinze minutos e nada da mãe dela voltar. Esperamos mais um pouco até nos preocuparmos realmente com a demora da moça. Saímos do apartamento e já não havia quase ninguém em nosso andar. O chão estava cheio d’água e dificultava nossos passos. Demos a volta no hall para chegarmos até o elevador e então encontramos um homem – cabelos curtos, grisalhos, magro, alto – que estava ali para socorrer as pessoas. Era um vizinho que nunca o havia visto. Ele, vendo o desespero de Laís e também o meu, disse-nos olhando nos olhos que tudo ficaria bem. Disse para irmos com ele até o elevador. E então é aí que o desespero começa. Esperamos o elevador chegar e quando ele chegou, havia muito tumulto de umas pessoas que apareceram de repente, também querendo entra no elevador. Com a demora, elas decidem ir pela escada, enquanto apenas um rapaz (aproximadamente vinte anos de idade, alto, magro, cabelos pretos e curtos) ficou conosco. Nesse empurra-empurra, entramos o senhor, o rapaz e eu no elevador, mas a Laís foi empurrada ou puxada, antes que a porta fechasse, tentamos puxá-la para dentro, mas não deu tempo, a porta do elevador já estava fechando com o elevador descendo. Ficou apenas a metade do braço dela preso entre a plataforma do elevador e a porta, fazendo com que o braço fosse dilacerado quando o elevador desceu, a única ultima lembrança que temos dela eram dos gritos aterrorizantes da dor indescritível que a pobre garota sentia. Infelizmente perdemos Laís.
            (Agora, peço que leiam apenas imaginando os fatos, mesmo que estes sejam fora do comum, apenas continuem lendo)
Estamos descendo no elevador e de repente sinto que ele está descendo mais rápido que o habitual. A corda escapou. Fecho os olhos, desejando não estar mais ali para quando ele chegar ao chão, vamos espatifar com certeza. Fecho os olhos com muita força e desejo de todo coração que quando eu abri-los, tudo isso já terá passado. E não deu outra! Quando abri os olhos, a tempestade havia acabado, não estávamos no mesmo dia. Na verdade, já haviam passado uns dois ou três dias (no máximo) depois do acontecido. Só que era como se eu tivesse me levado para o futuro, pois eu não era uma adolescente de 17 anos. Curiosamente eu estava com aparência de uns vinte e dois ou vinte e quatro anos, loucuras a parte. Mesmo assim, a situação a qual me deparei não desejo para ninguém. Ao invés da linda visão que tinha quando chegava ao térreo, das lindas palmeiras e o mar ao horizonte, agora fora substituída por um mar de corpos afogados, e pessoas gravemente feridas espalhadas por todo lado.
O senhor grisalho que ofereceu ajuda a mim e ao rapaz disse para não nos separarmos e esperar ajuda.
Tudo virou um alvoroço, emissoras de TV apareceram no local, resgate, corpo de bombeiros e pessoas inconsoláveis ali estavam. O pior é que isso não parou por aqui. A previsão do tempo para nossa cidade era de mais chuva. E consequentemente, novamente aquela tempestade aconteceria de novo e o mar estaria três vezes mais agitado do que o dia anterior (apesar de eu não saber se estava no futuro ou no presente), segundo a previsão.
As autoridades pediram para que as pessoas se retirassem do local, fossem para outras cidades e evitassem estar ali a todo custo. Mas muitas das pessoas que ali moravam, não tinham para onde ir, o jeito mesmo era ficar e tentar sobreviver do previsto caos.
Vendo que as pessoas não teriam o que fazer, não tinham para onde ir, o governo da minha cidade construiu um tipo de “trilho gigante temporário” que percorria toda a praia até o seu fim com gigantescos vagões para levar moças, crianças, idosos e se sobrasse alguns espaços levariam outras pessoas também. Aquele tipo de “trem” era basicamente um meio de refugiar essas pobres pessoas condenadas à praticamente morrerem afogadas com o mar em fúria que invadiria a cidade em poucas horas, um “tsunami previsto”, para ser mais exata.
Outro fato curioso é que eu apenas ficava por ali, como se minha missão nessa história toda fosse tentar de alguma forma ajudar quem precisasse ou apenas ficar por Divinas vontades.
Faltam poucos minutos para tudo acontecer novamente. Todos estão aflitos, procurando um meio de escapar. O senhor, eu e o rapaz continuamos juntos. Parece que estamos mantendo o controle. Algo dentro de nós sabe que conseguiremos sair dessa situação sem que nenhum de nós perca a vida. Este senhor é um tipo de inventor inteligente extraordinário. É neste momento que o mesmo pede para que eu e o rapaz o esperemos enquanto ele busca sua esposa e seu carro para que possamos sair dali.
Ele volta e nós entramos no carro. Começa então a ventania, logo em seguida a garoa e fortes rajadas de vento seguidas dos grossos pingos de chuva, que incessantemente e gradativamente caem, enfurecendo nosso, até então, adorável mar de sempre.
Tudo acontece tão rapidamente que não temos muito tempo até de fato começar a nos preocuparmos. Mas apenas uma pessoa dentro do carro estava com uma positividade incrível, prestes a nos revelar um segredo. E esta pessoa era o meu vizinho, este senhor amigável e extremamente inteligente. Surpreendentemente, não me perguntem como, do teto do carro surgem hélices que nos levantam do chão e dos lados do carro, asas para melhor desempenho do vôo (uma engenhoca inventada pelo meu “Vizinho Bugiganga”, se é que me entendem rs).
Sobrevoamos enquanto o tsunami acontecia, procurando por alguém que necessitasse de ajuda. Sem contar que me esqueci de mencionar que no bagageiro, havia um tipo de banco para o caso de não ter lugar dentro do carro e alguém precisar ser salvo (vamos combinar que foi uma engenhoca criativa!).
Por fim, avistamos uma menininha que precisava de ajuda, conseguimos resgatá-la e depois disso, a única coisa que me lembro foi de ter fechado os olhos e quando os abri novamente estava em um lugar  lindo, ensolarado e conversando com o prefeito da minha cidade sobre o novo condomínio que o governo proporcionou às vitimas do desastre natural. Um lugar muito bonito por sinal, com vastos campos e lindas árvores.

E este foi o sonho mais legal que tive em toda minha vida! Precisei escrevê-lo, pois mais real que este, eu não terei outra vez. Sem contar o fato de ter acordado na metade dele e quando voltei a dormir, tive a continuação *-* Não é todo dia que esse tipo de coisa acontece J Beijos. Até a próxima!